quarta-feira, 27 de abril de 2011

Prefiro ser babaca

O termo Brasil e brasileiro nascem para o mundo com o surgimento do capitalismo. No afã de transferir nossas riquezas para o mundo europeu, portugueses, franceses e espanhóis, dentre tantos outros que aqui aportaram, destruíram nossas matas, assassinaram nossos antepassados, legítimos donos do lugar, estupraram suas mulheres, dizimando não apenas o corpo físico, mas também a alma, impondo uma língua alienígena e um Deus completamente adverso daquele cultuado em nossos trópicos.
Os vários povos dispersos neste território, chamado de Pindorama, ainda não haviam desenvolvido a escrita. Viviam em perfeita harmonia com a natureza, como sugerem hoje em dia os naturalistas. Coube aos europeus vestir-lhes e orientá-los rumo os “bons modos” da chamada civilização branca européia da época e perpetuá-la desde então.
Foi um tempo de aflição. Todo o decorrer dos séculos XVI, XVII e XVIII. Mais de trezentos anos de devastação contínua, nenhuma outra guerra havia produzido tantas vítimas. Nem a Peste Negra que assolou a Europa dizimando boa parte de sua população, havia sido tão trágica. Ao sangue do ameríndio juntaram-se o sangue e o suplício dos negros, companheiros de infortúnio vindos de além mar.
E tal, como hoje, nossas almas e nossas riquezas foram drenadas pelo vampiro aterrador do capitalismo. Capitaneado pelos brancos europeus. Seguiram centenas de milhares de cargas de açúcar, de ouro, de tabaco e tantas outras riquezas que fariam daquele continente estéril, uma terra de riquezas imensas que duram até hoje, e, que até hoje oprimem os povos colonizados com a força deste capital que outrora foi nosso.
Os brasileiros foram adaptando-se aos seus algozes, copiando-lhes os costumes, desenvolvendo um sentimento de vergonha de suas verdadeiras raízes, negando suas crenças primitivas e o pior de todos os males, criando um “jeitinho” que cada vez mais se alastra como câncer, para se tornar mais parecido com o branco. Talvez, uma forma de encurtar o caminho para atingir a almejada meta do branco colonizador. Desta maneira, criou-se um produto social, que apesar de não ser genuinamente brasileiro, é aqui que se produz de forma escancarada, a corrupção. Esta necessidade que sente cada um de negar a cidadania do outro – sempre o menor na escala social – e assim são cometidos, por brasileiros contra brasileiros, todos os dias crimes que são considerados por nossa ética de colonizados, como normais.
Algumas pessoas, e são muitas, acreditam que é normal furar a fila, seja no banco ou no hospital, receber um benefício que é destinado às pessoas carentes, driblar a previdência social, sonegar impostos, colar ou “filar” na prova do outro, etc, etc, etc; Todos estes comportamentos que atentam contra a moral e a ética é fruto desta visão tacanha de colonizado, infelizmente há um pensamento absurdo e criminoso, de que quem não age assim é “babaca”. Pessoalmente, prefiro ser “babaca” e dormir com minha alma limpa, livre da sujeira que o branco europeu trouxe a estas plagas.

Por Geraldo Bernardo

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