segunda-feira, 2 de maio de 2011

José Aldemir cobra da Polícia Federal revelação do atentado no Cine Apolo XI

O deputado sertanejo, José Aldemir (DEM) apresentou um requerimento, nessa quinta-feira (28), à Mesa da Assembleia Legislativa do Estado, solicitando que o superintendente da Polícia Federal no Estado, Marinaldo Barbosa Moura, revele à sociedade o resultado das investigações feitas pela instituição e pelo Exército Brasileiro no caso do atentado à bomba ocorrido em 2 de julho de 1975, no Cine-Teatro Apolo XI, na cidade de Cajazeiras, com o intuito de assassinar o então bispo da Diocese local, Dom Zacarias Rolim de Moura.
José Aldemir leu o requerimento na tribuna e fez um longo pronunciamento sobre o caso, que foi lembrado esta semana em reportagens publicadas pelo Jornal do Comércio, de Recife, com ampla repercussão em Pernambuco e na Paraíba.
Mistério
Segundo o deputado, o atentado ainda hoje está recoberto “por um denso, inaceitável e inquietante mistério e por indagações sem respostas”. No seu discurso, o democrata chamou o atentado de 2 de julho de 1975 de “abominável e dramático”.
O parlamentar afirmou que o acontecimento é lembrado, desde então, com tristeza, revolta e perplexidade, tanto por testemunhas remanescentes, como pelos brasileiros e paraibanos, sobretudo pelos cajazeirenses.
Aldemir disse também que a lembrança triste do fato se dá pela “insólita ou estranha morte de duas pessoas e mutilação física irreversível causada a outras duas, e pelo injustificado desaparecimento e falta de conclusão do inquérito policial, do qual não se tem, sequer, uma efetiva e verossímil ou provável notícia, decorridos mais de 35 anos do infeliz acontecimento”.
Crítica
Ele criticou a inexistência de autoria comprovada do crime hediondo e o desconhecido paradeiro do inquérito policial.
No decorrer do discurso, José Aldemir fez algumas indagações. “Por que não foi concluído o inquérito policial? Onde se encontra o respectivo processo? Quem determinou seu arquivamento de modo a cercear a consequente ação penal? Por que a seu respeito não subsistiu nenhuma informação, referência ou registro nos livros de assentamento ou arquivo dos departamentos competentes da Polícia Federal, da Polícia do Estado e dos cartórios judiciários?”.
“Linha-dura usava ações de violência”
Conforme o deputado José Aldemir, as indagações atravessam décadas e as lembranças do acontecimento trágico permanecem vivas e acesas no imaginário popular.
No meio do discurso, José Aldemir falou sobre o momento de inquietações políticas vividas pelo Brasil. Disse que Cajazeiras ostentava elevado grau de politização que envolvia padres e estudantes e que a principal suspeita intelectual pelo atentado recaíra sobre o então deputado, João Bosco Braga Barreto.
“Mas o Brasil vivia uma atmosfera de alviçareira expectativa, ante o anúncio, pelo presidente Ernesto Geisel, da instauração de um processo de abertura política lenta, gradual e segura, certamente pressionado pela esmagadora vitória da oposição (Movimento Democrático Brasileiro-MDB) nas eleições daquele ano, com a transferência do poder aos civis e retorno das eleições gerais”, disse o deputado.
Ao mesmo tempo, segundo ele, os movimentos liberais e de esquerda prosseguiam o combate ao Governo.
Clandestino
“Do outro lado, a linha dura do regime militar e o braço clandestino da repressão usava inominável estratégia, com ações de violência e terrorismo, cujo objetivo não era outro, senão minar o terreno libertário e impedir a volta do Estado de Direito”, frisou José Aldemir.
Ele lembrou a crise no Exército, depois da demissão do ministro linha-dura, General Frota; os ataques a bomba em vários recantos do país, a carta-bomba que matou Lydia Monteiro Silva, no episódio do Rio Centro, no Rio de Janeiro.
“Pois, bem, senhores deputados. Segundo a destemida e impecável reportagem do Jornal do Comércio, a bomba do Cine-Teatro Apolo 11, de Cajazeiras, teria sido a primeira desta série de violentas e disfarçadas reações da facção oculta e clandestina da ditadura militar, radicalmente oposta à restauração da democracia no Brasil”, disse.
Alvo
Por fim, José Aldemir lembrou que Dom Zacarias seria um alvo inequívoco “para eximir qualquer suspeição do ato de terrorismo de direita, justamente porque era um sacerdote aliado do sistema implantado pelos militares.
“Conservador, contraponto da intelectualidade local e da Igreja progressista liderada por Dom José Maria Pires, Dom Zacarias era um aficionado por cinema. Assim, teria deixado vaga sua cadeira privativa na casa de entretenimento em virtude de uma programada viagem a Recife, exatamente na noite do atentado, cuja explosão acordara a cidade sobressaltada. Porém, o explosivo fora encontrado debaixo da poltrona reservada ao respeitado e ilustre clérigo, sendo deflagrado ao cair nos pés do serviçal encarregado da limpeza, após a sessão cinematrográfica, fulminando-o pelo impacto mortal”, lembrou José Aldemir.
Fonte: Jornal Correio

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